João C. S. Barata
Mestre em Engenharia Civil (IST) e membro sénior e especialista da Ordem dos Engenheiros
Professor adjunto convidado do ISEL – Instituto Superior de Engenharia de Lisboa, Instituto Politécnico de Lisboa
01/07/2022O presente artigo procura sensibilizar o setor produtivo da (AEC) do mercado português, para os principais conceitos, fundamentos e metodologias BIM, aplicados a projetos de arquitetura e engenharia civil.
Neste contexto, a implementação da metodologia de trabalho BIM no desenvolvimento de projetos de edificações e infraestruturas, apresenta-se como um novo paradigma. Implica uma reorganização de procedimentos de projeto, mais estruturada e sistematizada, a qual se vai refletir num melhor planeamento interno dos diferentes intervenientes da organização.
Podemos afirmar que os desafios para a implementação desta nova metodologia são diversos, dos quais se salientam: as mudanças de mentalidade, as adaptações organizacionais, o investimento em tecnologia e na formação dos colaboradores, novas formas de colaboração, partilha de informação e requisitos de normalização e interoperabilidade.
É fundamental que as organizações sejam capazes de mapear processos, identificar trocas de informação, adaptar as suas estruturas organizativas e implementar processos e planos de BIM integrados.
Figura 1. Fases de um empreendimento com a metodologia BIM. [1]
O conceito BIM para o setor da (AEC) serve de base, não apenas para uma construção específica, mas também para simular o desenvolvimento de um empreendimento num bairro ou cidade
A interoperabilidade para o BIM tem usualmente duas perspetivas. A primeira é considerada como externa à organização, na qual a interoperabilidade e a colaboração são feitas com organizações externas, das várias especialidades como a arquitetura, estruturas e instalações especiais, nomeadamente redes de conduta, redes hidráulicas e iluminação. Por este via existem vários modelos 3D por disciplina (especialidade), que se interligam num modelo integrado, com recurso a plataformas colaborativas, tais como Allplan Bimplus®. Neste contexto, a interoperabilidade entre sistemas pode ser assegurada através do ficheiro universal IFC, por ficheiros compatíveis ou por ficheiros do mesmo sistema de modelação BIM das diversas disciplinas.
A segunda perspetiva é considerada como interna e refere-se a um sistema de modelação BIM que pode interagir, por exemplo com um sistema de análise de cálculo estrutural, através de um interface de programação de aplicações (Application Programming Interface – API), ou plugins instalados no sistema de modelação BIM.
Em Portugal, temos a Comissão Técnica CT197 que corresponde ao mirror committee do CEN/TC442 BIM e ISO/TC59. É a entidade delegada pelo Instituto Português da Qualidade (IPQ), responsável para o desenvolvimento da normalização no âmbito dos sistemas de classificação, modelação da informação e processos ao longo do ciclo de vida dos empreendimentos de construção.
Embora a normalização BIM seja um ponto crítico, cuja complexidade exige especial cuidado, podemos concluir com toda a convicção que a mesma, contribui de forma decisiva para alavancar a vantagem competitiva permitida pela utilização integrada do BIM.
Ainda que se verifique um atraso em relação a outros países europeus, podemos afirmar que a normalização em Portugal segue as atividades do programa de normalização e espera-se que num futuro próximo possamos ter normas e guias, que permitirão um auxílio no planeamento e na organização dos projetos a desenvolver.
Podemos concluir que a normalização em BIM é de crucial importância, porque pressupõe uma mudança de paradigma da indústria tradicional, rumo à indústria 4.0, incentivada pelas tecnologias inovadoras que provocam resultados significativos, quer nos sistemas de produção como nos modelos de negócio.
No período de transição irão coexitir as duas metodologias de trabalho e a organização terá de se ajustar progressivamente à nova realidade.
As atividades BIM iniciam-se com base em quatro fases, a saber: O diagnóstico; o planeamento; a implementação e por último a aferição dos resultados obtidos.
Na primeira fase, realiza-se um diagnóstico através de uma análise pormenorizada dos seguintes tópicos: Fluxos do trabalho atual na organização; Avaliação da infraestrutura informática existente e Transição da metodologia. Para se conseguir manter um nível de conhecimento elevado, além da equipa a formar, é de extrema importância proceder à contratação de um gestor de BIM (BIM manager) que possa fazer a gestão e resolução de eventuais problemas.
A implementação deve ser realizada de forma progressiva, começando preferencialmente por projetos de menor dimensão, se possível, recorrer na organização a um projeto existente, de fácil modelação e com pormenores repetitivos, afim de poder comparar facilmente com a metodologia 2D anteriormente utilizada.
A segunda fase, correspondente ao planeamento, tem como objetivo mostrar as linhas orientadoras e mapear os processos da nova metodologia. Para tal, deve-se ter em conta os seguintes tópicos: Promover a visão de BIM; escolha dos softwares; restruturação da infraestrutura informática; plano de formação da equipa; BIP (BIM Implementation Plan); a matriz interna de responsabilidades da equipa e o manual interno de modelação BIM.
Nesta fase, a escolha correta do software de modelação BIM reveste-se da maior importância para a implementação adequada da metodologia, porque passa a ser a peça central, com os outros softwares a interagirem com este último – Figura 2.
Figura 2. Extração de informação da modelação BIM. [2]
Na terceira fase (implementação), é recomendada a realização de um manual de BIM para auxiliar o desenvolvimento do projeto, estruturando as informações (dados) e os processos necessários, estabelecendo padrões de representação, planeamento e gestão.
A ISO 19650-2, aborda o processo de gestão de informação ao longo de um empreendimento de construção em 8 etapas – Figura 3.
Figura 3. Diagrama dos fluxos de trabalho da ISO 19650-2. [3]
Por último a quarta fase, corresponde à avaliação dos resultados obtidos, permite avaliar o desenvolvimento da implementação da metodologia BIM na organização.
De entre as inúmeras vantagens desta metodologia (BIM), destaca-se o trabalho mais transparente e os processos e trocas de informação que são mais facilmente mapeadas e rastreadas, permitindo identificar as responsabilidades de todos os envolvidos no processo.
Embora a utilização em Portugal ainda não seja obrigatória, ao contrário de muitos países europeus, já se observa uma consciência para as enormes vantagens associadas à utilização destas ferramentas.
Referências bibliográficas
[1] Adaptado de Dispenza, 2010.
[2] Adaptado de Crowley, 2013.
[3] Adaptado de (Júlio, 2020; Muñoz, 2019).
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