Sustentabilidade no edificado
A necessária sustentabilidade do edifício
Vivemos momentos de transição. Transição energética, transição digital e transição social. Porque não aproveitar as atuais transições para adaptar e transitar os edifícios para uma verdadeira lógica de sustentabilidade?
A sustentabilidade necessária para adaptar os edifícios à transição energética em ligação com outras dimensões ambientais e permitir a efetiva redução dos consumos e custos, sempre a par da melhoria do conforto para os seus ocupantes. Sustentabilidade para fazer transitar o setor da construção, responsável por cerca de 75% da energia final consumida na Europa, para um setor que integre uma visão holística na edificação e reabilitação, integrando todas as vertentes do edifício e suas componentes, melhorando a envolvente, os sistemas passivos e ativos e integrando mais automatismos e promovendo a digitalização.
Sustentabilidade associada à transição social, através do aumento da capacidade dos edifícios se moldarem às necessidades dos ocupantes e não o inverso, para que tenhamos edifícios capazes de responder às transformações sociais e às necessidades das pessoas e das famílias nas suas diferentes etapas de vida.
Só 10% dos edifícios com classes energéticas A e A+
A adaptação dos nossos edifícios deverá ser o ponto essencial da nossa ação, uma vez que o parque edificado é responsável pelo consumo de cerca de 40% da energia final na Europa, e cerca de 30% em Portugal. O nosso país dispõe de cerca de 3,5 milhões de edifícios, dos quais 87% correspondem a 3,1 milhões de moradias unifamiliares (que comportam 6 milhões de alojamentos unifamiliares) e os restantes 13% relativos a 0,4 milhões de edifícios multifamiliares (que comportam 2,9 milhões de alojamentos).
Cerca de 25% destes edifícios apresentam necessidades de melhoria, de acordo com informação do Instituto Nacional de Estatística (INE). Complementarmente, de acordo com informação do Sistema de Certificação Energética dos Edifícios (SCE), da ADENE, dos aproximadamente 1,75 milhões de Certificados Energéticos (CE) emitidos, somente 10% dos edifícios apresentam classes energéticas A e A+, que são as mais eficientes. Temos assim grandes desafios e oportunidades para melhoria dos edifícios.
Dos 1,75 milhões de Certificados Energéticos (CE) emitidos, somente 10% dos edifícios apresentam classes energéticas A e A+
Mas para conseguirmos uma transição energética mais sustentável devemos respeitar uma hierarquia na seleção das medidas de melhoria nos edifícios, de forma a garantir uma real redução energética e de custos.
Esta hierarquia deverá apresentar-se como uma pirâmide de medidas. Na sua base deverão estar as intervenções ao nível da envolvente, melhorando assim as características térmicas das paredes, coberturas, pavimentos e janelas, para que possamos reduzir as perdas no inverno, minimizar os ganhos no verão e ainda maximizar os ganhos de temperatura por radiação solar no inverno através dos vãos envidraçados.
Numa segunda camada devemos agir ao nível do controlo da ventilação para garantir que os espaços interiores tenham uma renovação do ar controlada, com o objetivo de aumentar a qualidade do ar interior, reduzir efeitos de perdas energéticas e promover a saúde dos ocupantes. De forma a conseguirmos esta otimização podemos recorrer a métodos ancestrais como a ventilação natural, ou às mais recentes tecnologias da ventilação mecânica ou mista.
A camada seguinte de atuação deverá ser ao nível do aumento da produção local de energia renovável, quer seja através de energia térmica (coletores solares térmicos) ou energia elétrica (painéis fotovoltaicos ou turbinas eólicas), permitindo deste modo reduzir as necessidades ao nível da distribuição.
Por fim, no topo da pirâmide devemos ter os equipamentos de climatização e produção de água quente devidamente articulados com as soluções de produção local de energia, que irão suprir as necessidades pontuais de aquecimento ou arrefecimento. Na seleção destes equipamentos devemos optar sempre por equipamentos eficientes (especialmente os que fazem uso de energia renovável, como as bombas de calor ou biomassa, como as caldeiras) e devidamente ajustados às necessidades, de forma a não colocarmos em risco o real benefício de toda esta pirâmide de seleção de medidas de melhoria.
Portal casA+
Para agilizar a promoção destas intervenções, a ADENE – Agência para a Energia desenvolveu o Portal casA+ que dispõe de uma ligação ao SCE que permite uma fácil identificação de medidas de melhoria. Através da associação do Certificado Energético, os proprietários dos imóveis residenciais dispõem de um conjunto de informação que facilita a priorização de medidas de melhoria por parte dos consumidores.
Através da associação do Certificado Energético, os proprietários dispõem de um conjunto de informação que facilita a priorização de medidas de melhoria
O Portal casA+ disponibiliza ainda a identificação de medidas de melhoria adicionais, com base na caracterização do imóvel, e possibilita ainda ao consumidor nomear as suas próprias medidas, além de facilitar também a interação com empresas de confiança e qualidade, com vista à solicitação de orçamentos, que pode ser feita diretamente via Portal casA+.
Deste modo, as empresas contactadas recebem informação sobre as medidas pretendidas, relevante ao processo de prescrição e orçamentação de serviços e equipamentos. As orientações claras e simples do Portal casA+ facilitam todo o processo de pedido de orçamentos e a concretização de medidas de melhoria energética (e também hídrica) em poucos passos.
Transição digital
Garantir a sustentabilidade ao nível da transição digital será outro dos pontos chave nas mudanças que iremos sentir nos próximos tempos, que passará por disponibilizar maiores automatismos nos edifícios, como o controlo da climatização, ventilação, iluminação, dispositivos de oclusão (persianas, estores ou cortinados) ou o ajuste do carregamento das viaturas elétricas, mapeando a informação disponibilizada por diversos sensores, dispostos pelo edifício, otimizando set-points e atuando ao nível dos equipamentos de acordo com o parametrizado pelo utilizador.
Ou seja, teremos uma atuação abrangente sobre os edifícios avançando na integração entre os sistemas domóticos e os sistemas de automação e controlo do edifício (SACE), resultando em edifícios realmente inteligentes.
Para dar resposta a uma transição digital crescente, a ADENE tem vindo a expandir também as funcionalidades do Portal casA+, como a entrega digital do Certificado Energético, mediante comprovação de proprietário e a monitorização de consumos de água e eletricidade (em versão beta, ainda com registos de forma manual, mas que permite reunir e consultar, num único local, os seus históricos de consumo de energia e de água). A ADENE tem estado ainda a trabalhar em sinergias com outros sistemas e plataformas com vista à implementação de novas funcionalidades.
Transição social
Por fim e não menos importante, a transição social. Uma transição que influência de uma forma única a sustentabilidade dos edifícios, pois se até há poucos anos os edifícios eram inamovíveis na sua utilização (expressando-se em habitações caraterizadas por tipologias estanques, escritórios que somente dispunham de espaços ou salas para a atividade das empresas e armazéns que se limitavam a serem depósitos), atualmente já nada é imutável.
Muitas casas converteram-se parcialmente em escritórios, os edifícios de escritórios ganharam novas formas dispondo de espaços de lazer, recriação ou abertos à sociedade local e muitos armazéns foram convertidos em espaços de exposição, de trabalho ou outras atividades tão variáveis.
Assim, a sustentabilidade e a transição energética dos edifícios passa também por refletir como melhor configurar e reabilitar os edifícios de forma a garantir uma melhor utilização no presente, preparando e antecipando as corretas respostas aos desafios e evoluções que iremos ter no futuro.
