Durante três dias, nove especialistas internacionais abordaram o impacto real da inteligência artificial em todas as fases do ciclo de vida de um projeto, através de experiências práticas e desenvolvimentos tecnológicos aplicados. Partilharam casos reais de utilização sobre a forma como a IA está a transformar os processos de conceção, construção, planeamento e manutenção no setor AECO.
Transformar versus digitalizar
Na sessão espanhola, Fernando Iglesias, Diretor de Inovação da Kronos e diretor do Mestrado em Inteligência Artificial para Arquitetura e Construção da Zigurat, salientou a diferença entre digitalização e transformação do setor: “Digitalizar é tornar digital um processo existente; transformar é repensá-lo completamente graças à tecnologia”.
Iglesias salientou que “a inteligência artificial está a transformar a forma como concebemos o design urbano e arquitetónico. Ferramentas como o Autodesk Forma ou o TestFit permitem-nos avaliar dezenas de opções em segundos e tomar decisões mais informadas desde as fases iniciais”.
Carles Farré, cofundador da Aecotech, explicou como a automatização personalizada através de agentes impulsionados por modelos generativos de IA está a permitir a implementação de fluxos de trabalho mais objetivos e rastreáveis em ambientes de construção. Francisco Carmona apresentou um modelo de previsão do consumo de energia baseado na aprendizagem automática, implementado com ferramentas como o Knime.
O dia terminou com a apresentação de um caso real desenvolvido por alunos dos programas Zigurat, que integrou IA, planeamento BIM 4D e ferramentas colaborativas como o Microsoft 365 num projeto de construção no Porto.
Interoperabilidade, visão computacional e desafios éticos
Na sessão em português, Ítalo Guedes, diretor académico do Mestrado em Inteligência Artificial para Arquitetura e Construção da Zigurat, ministrado em português, e professor da Universidade Federal de Pernambuco, fez uma demonstração ao vivo sobre o treino de modelos de visão computacional para detetar a utilização de equipamentos de proteção individual em obra. “A inteligência artificial permite-nos ir além da identificação de riscos e preveni-los a tempo com dados processados em tempo real”, afirmou.
Rogério Lima, codiretor do mesmo mestrado, explicou como ferramentas como a Alice Technologies ou o ConstruFlow permitem aplicar a inteligência artificial a cada fase da gestão de projetos.
Jordana de Castro Rosa, BIM Manager da WSP, mostrou duas soluções desenvolvidas por sua equipe: AI2Speckle e Ecomatic, que automatizam processos de projeto e integram dados de sustentabilidade no Revit a partir de planilhas. Antônio Cavalcanti encerrou a segunda sessão com uma reflexão sobre o impacto social da IA: “A inteligência artificial não vai substituir empregos, mas vai substituir aqueles que souberem usá-la”, alertou.
Experiências internacionais
A sessão em inglês reuniu três profissionais com experiência internacional em projetos de grande dimensão. Lilian Ho, especialista em digital e BIM da AECOM e diretora académica do Mestrado em Inteligência Artificial para Arquitetura e Construção da Zigurat, em inglês, explicou que “a IA generativa pode produzir múltiplas opções de design otimizadas em segundos, permitindo decisões mais criativas, sustentáveis e eficientes desde o início do projeto”.
Acrescentou que “acelerámos os fluxos de trabalho em até 1000% em comparação com uma década atrás, mas o importante não é o número, é que a IA está aqui e é imperativo adotá-la”, disse Ho.
Por seu lado, Jordana de Castro explicou em pormenor como treinaram modelos com tecnologias como a Difusão Estável, para converter imagens geradas por IA em modelos BIM que integram materiais com informação de carbono incorporada. “O nosso objetivo é converter imagens em dados úteis para que todas as decisões de conceção se baseiem na sustentabilidade e na rastreabilidade”, afirmou.
Varun Bhartiya, CEO da nCircle Tech, alertou para o facto de que “a IA não o vai substituir, mas sim alguém que a utilize”, citando o fundador da Nvidia. Bhartiya apresentou casos em que a IA permitiu reduções drásticas nos tempos de conversão de digitalizações a laser para modelos BIM. “Por vezes, passámos de cinco dias de trabalho manual para um único dia com a automatização baseada na IA. Só com a IA, reduzimos o tempo de modelação em 30%”, afirmou. Demonstrou também ferramentas de IA conversacional aplicadas à visualização de dados no Power BI e à geração automática de imagens para digitalização de conceitos.
Os oradores concordaram que a IA já está a ter um efeito tangível na eficiência energética, na produtividade e na qualidade do ambiente construído. Varun Bhartiya resumiu afirmando que “a inteligência artificial já faz parte do presente da indústria. Adaptar-se rapidamente à sua utilização é uma necessidade para permanecer competitivo e, em última análise, para liderar a transformação que está a chegar”. Fernando Iglesias concluiu que “a inteligência artificial obriga-nos a repensar o projeto de arquitetura numa perspetiva transversal, integrada e estratégica”.
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