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Janelas sustentáveis

Conforto, eficiência e regulamentação a abrir novos horizontes

Marta Clemente16/06/2025
“Quando existir um novo enquadramento legislativo teremos de atualizar as normas afetadas”
“A Reynaers certifica todas as soluções com marcas de sustentabilidade e caraterização precisa dos desempenhos”
A nova geração de janelas está no centro das políticas de eficiência energética e conforto nos edifícios. Com mudanças legislativas à vista e uma crescente exigência ambiental, o setor adapta-se ao desafio de construir — e reabilitar — com mais inteligência e sustentabilidade.
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Num contexto europeu de forte aposta na descarbonização, o setor das janelas ganha protagonismo na melhoria da eficiência energética dos edifícios. A nova Diretiva Europeia do Desempenho Energético dos Edifícios (EPBD), aprovada em 2024, e o novo Regulamento dos Produtos de Construção (RPC) estão a reformular o enquadramento técnico e legal. Em Portugal, onde 80% dos edifícios têm classificação energética C ou inferior, estas mudanças são urgentes e inevitáveis.

Eficiência energética começa pelas janelas

A Diretiva (UE) 2024/1275, relativa ao desempenho energético dos edifícios, introduz medidas para acelerar a renovação do edificado europeu e reforça o papel das janelas, ao permitir que o seu coeficiente de transmissão térmica médio passe a constar nos certificados energéticos. Esta valorização facilita a substituição de janelas antigas por soluções mais eficientes, alinhadas com os objetivos de edifícios de emissões quase nulas. A diretiva prevê ainda passaportes de renovação, metas nacionais de renovação gradual, normas mínimas para edifícios não residenciais e a descarbonização total até 2050. Neste processo, a melhoria da envolvente dos edifícios, onde as janelas têm papel central, é essencial para reduzir perdas térmicas, melhorar o conforto e baixar a fatura energética.

Em Portugal, estas medidas articulam-se com a Estratégia Nacional de Longo Prazo para o Combate à Pobreza Energética (ELPPE) 2023-2050, cujo primeiro eixo — ‘Promover a sustentabilidade energética e ambiental da habitação’ — destaca a renovação da envolvente passiva (paredes, coberturas, pavimentos e caixilharias) como uma medida estruturante.

Embora os apoios à substituição de caixilharias não estejam no texto-base da ELPPE, são concretizados nos Planos de Ação para o Combate à Pobreza Energética (PACPE) e em programas como o PAE+S (Programa Edifícios Mais Sustentáveis) e o E-Lar, que atribuem incentivos financeiros à instalação de janelas eficientes.

Outros programas, como o Vale Eficiência e o PACR (Programa de Apoio a Condomínios Residenciais), também apoiam financeiramente estas intervenções — incluindo materiais e mão de obra — e continuarão, pelo menos até 2026, a contribuir para combater a pobreza energética e melhorar o desempenho do parque edificado nacional.

Nova geração de requisitos técnicos e ambientais

Com a entrada em vigor faseada do novo RPC — Regulamento (UE) 2024/3110 —, o setor das janelas enfrenta novas exigências. Cada janela colocada no mercado terá de incluir uma Declaração de Desempenho (DoP) e uma Declaração Ambiental de Produto (DAP ou, em inglês, EPD), com informação sobre energia incorporada, emissões de gases com efeito de estufa e reciclabilidade do conjunto vidro/caixilharia. O regulamento reforça ainda os requisitos de durabilidade, reparabilidade e reciclabilidade, bem como a demonstração de desempenhos térmico e acústico, de acordo com os níveis definidos nas futuras normas harmonizadas (EN).

Outro destaque é o Passaporte Digital do Produto (DPP), que agrega dados sobre composição, pegada de carbono, durabilidade e potencial de reutilização, permitindo maior rastreabilidade ao longo da cadeia de valor. Este novo enquadramento normativo fornece a fabricantes, instaladores e entidades adjudicantes instrumentos para a escolha de soluções mais sustentáveis, exigindo investimentos consideráveis em I&D, adaptação de processos, certificação e formação técnica.

Paralelamente, estão a ser revistos os projetos das normas EN 14351-1 (janelas) e EN 13830 (fachadas envidraçadas), que passarão a definir critérios atualizados para o valor U (indicador do desempenho térmico), ensaios de durabilidade e parâmetros ambientais através das DAP/EPD, com validação por organismos certificados. Para componentes como vidro e sistemas estruturais, está a ser aplicada uma via rápida de normalização, acelerando os processos de aprovação. Este conjunto de alterações legislativas impõe novos padrões técnicos e ambientais, mas também impulsiona a inovação, a competitividade e a renovação do edificado na Europa.

Pedro Santos...
Pedro Santos, diretor técnico da Reynaers e responsável da Comissão Técnica de Normalização 098 do IPQ para as normas portuguesas de instalação de janelas.

Normas e desafios: o que falta fazer para garantir janelas sustentáveis em Portugal

Pedro Santos, diretor técnico da Reynaers e responsável da Comissão Técnica de Normalização 098 do Instituto Português da Qualidade (IPQ) para as normas portuguesas relativas à instalação de janelas, defende mais clareza legislativa e equilíbrio técnico nas exigências de conforto térmico e acústico.

A instalação de janelas continua a ser um dos pontos críticos na construção sustentável. Apesar da crescente exigência em termos de desempenho energético e conforto, Portugal ainda não dispõe de normas técnicas específicas para a instalação destes elementos. “Não existem. Está planeado realizar uma norma após a conclusão do trabalho em curso”, adianta Pedro Santos.

Enquanto se aguarda a criação dessa nova norma, está a decorrer a atualização da NP 4517:2014+2015, que integra requisitos estruturais, “para acomodar as alterações relativas à implementação dos Eurocódigos Estruturais para a nossa realidade”, explica, garantindo ainda coerência com a regulamentação nacional atualmente vigente.

A revisão surge num momento de mudança legislativa a nível europeu, com a nova EPBD, que exigirá alterações legislativas a cargo da Assembleia da República ou do Governo. “Quando existir um novo enquadramento legislativo teremos de atualizar as normas afetadas”, refere.

Contudo, o especialista alerta para a complexidade do quadro legal atual: “é complexo e moroso, mesmo para os especialistas, o que é contraproducente à correta aplicação e escolha, levando a erros técnicos recorrentes com efeitos contrários ao previsto”. Um dos exemplos que destaca é o aumento do isolamento térmico sem considerar os ganhos solares no verão, o que pode resultar em maior necessidade de arrefecimento e aumento do consumo energético.

Relativamente ao Regulamento Geral do Ruído (Decreto-Lei n.º 9/2007), embora não seja tema central da Comissão Técnica 098, Pedro Santos lembra que a sua alteração também depende do legislador. “Se surgirem alterações ao enquadramento atual teremos de realizar a adequação regulamentar”, afirma. Sobre o isolamento acústico, defende soluções equilibradas: “uma melhor atenuação acústica implica maior utilização de recursos. Pode não ser necessária em muitas localizações, por isso, mais importante do que aumentar os critérios, é garantir que os atuais sejam bem aplicados, com conhecimento técnico dos projetistas e colaboração de todos os intervenientes: investidores, donos de obra, fiscalização, fabricantes, instaladores e entidades governamentais e autárquicas”.

No que toca ao impacto do RPC, Pedro Santos é mais otimista. “Aumenta a qualificação dos recursos humanos e clarifica os desempenhos dos produtos comercializados, permitindo um enquadramento na União Europeia que possibilita o comércio”, destaca.

Questionado sobre a ELPPE 2023-2050, mostra-se cauteloso quanto à aplicação dos incentivos. “Se criar um enquadramento favorável ao uso de soluções tecnicamente adequadas para as necessidades coletivas será positivo. Contudo, pode enviesar o mercado livre se favorecer apenas alguns. Creio que seria mais adequado permitir impostos mais favoráveis às soluções tecnicamente adequadas, em vez de atribuir incentivos diretos.”

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Do lado da indústria, Pedro Santos assegura que a resposta tem sido contínua. “A Reynaers, desde 1965, trabalha para disponibilizar as mais eficientes e económicas soluções para o mercado global. Diariamente desenvolve, melhora e testa todos os seus sistemas para garantir que são referência de desempenho nos vários requisitos críticos aplicáveis. Certificamos todas as soluções com marcas de sustentabilidade e caraterização precisa dos desempenhos, fomentando sempre a melhor relação custo/benefício.”

Por fim, sobre a participação do setor nos processos de normalização e definição de políticas públicas, reconhece que o envolvimento ainda é limitado: “sendo este trabalho de índole voluntária, por vezes é difícil cativar um maior quórum técnico, algo que espero que melhore progressivamente”.

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