O projeto português galardoado, intitulado ‘Echoes of the Void’, foi desenhado para o singular contexto das Furnas, localidade da ilha de São Miguel, nos Açores, famosa pelos seus cenários naturais de rara beleza e pela coexistência harmoniosa entre floresta, lagoas e atividade vulcânica. Numa abordagem que foge ao convencional, o edifício proposto recusa o modelo de centro clínico tradicional para assumir-se, antes, como um espaço de acolhimento e contemplação dedicado a pessoas em fim de vida. Este conceito inovador sublinha a necessidade de reimaginar a arquitetura como agente ativo na humanização dos cuidados e no apoio emocional, indo ao encontro de desafios cada vez mais relevantes no contexto do envelhecimento populacional e da saúde mental.
A arquitetura do projeto foi inspirada pelas cinco fases do luto – negação, raiva, negociação, depressão e aceitação – conceito desenvolvido pela psiquiatra Elisabeth Kübler-Ross. Esta inspiração reflete-se num percurso espacial que acompanha as diferentes etapas emocionais vividas por quem enfrenta o fim da vida ou a proximidade da perda. O desenho do edifício incorpora a luz natural e as sombras, os planos verticais e intervalos de vazio, como elementos que guiam não só o olhar, mas também a experiência sensível dos utilizadores e visitantes.
Maria João Correia, arquiteta e fundadora do Atelier Segmento Urbano, sublinha a importância desta distinção internacional para o panorama da arquitetura portuguesa. “Esta conquista representa a afirmação da capacidade criativa da arquitetura nacional, para além dos vultos consagrados de Siza ou Souto Moura”, afirma. A responsável destaca ainda o papel do World Architecture Festival na promoção de propostas visionárias e inovadoras, defendendo que esta distinção “reforça o potencial de exportação da arquitetura nacional, num momento em que a procura por soluções mais humanas, sustentáveis e contextuais ganha força no mercado imobiliário internacional”.
Segundo a mesma responsável, o prémio WAFX tem um duplo significado: por um lado, reconhece o ateliê como agente atento às necessidades e desafios contemporâneos da arquitetura; por outro, valida uma abordagem que cruza inovação formal, sensibilidade poética e responsabilidade social. “Este prémio tem um sabor ainda mais especial, uma vez que o mesmo confere visibilidade ao nosso posicionamento enquanto atelier atento às questões contemporâneas da arquitetura e capaz de propor soluções que cruzam inovação formal, sensibilidade poética e responsabilidade social”, acrescenta Maria João Correia.
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