João Ferreira Gomes, presidente da ANFAJE
20/11/2025
A integração da Internet das Coisas (IoT) está a abrir um novo capítulo na forma como interagimos com os edifícios. As janelas inteligentes já são uma realidade — equipadas com sensores de temperatura, humidade, qualidade do ar e luminosidade, e capazes de comunicar com sistemas de ventilação e climatização. Estas soluções permitem otimizar o desempenho energético em tempo real, reduzir desperdícios e melhorar o conforto térmico e acústico dos ocupantes dos edifícios. Mas embora esta inovação tecnológica seja importante, o que está realmente em causa é a possibilidade de não se desperdiçar energia. Num contexto em que o aquecimento e arrefecimento das habitações e dos escritórios representam parcelas significativas das faturas energéticas, a janela passa a ser um aliado ativo na gestão inteligente do consumo de energia, contribuindo para edifícios mais eficientes e sustentáveis.
A sustentabilidade é, aliás, o atual denominador comum de todas as transformações do setor. O ciclo de vida dos produtos, a escolha de materiais recicláveis e de baixo impacto ambiental, a durabilidade e a capacidade de manutenção são hoje critérios fundamentais aquando do início de um projeto arquitetónico. As janelas eficientes não só reduzem os ganhos e as perdas térmicas e as emissões de CO₂, como também aumentam a qualidade de vida e o valor patrimonial dos edifícios. O setor tem vindo a investir fortemente em inovação e certificações da qualidade e ambientais, respondendo positivamente à exigência crescente da regulamentação e à necessidade de cumprir as metas nacionais e europeias de descarbonização.
Mas o futuro vai ainda mais longe. Caminhamos para a autossuficiência energética dos edifícios (o conceito ZEB), onde as janelas podem desempenhar um papel relevante. A investigação já permite desenvolver vidros fotovoltaicos que produzem energia elétrica a partir da luz solar, integrando-se de forma estética e funcional nas fachadas. Estas soluções podem vir a transformar cada metro quadrado de superfície envidraçada numa microcentral de energia — uma revolução silenciosa que poderá alterar, por completo, a relação entre o consumo e a produção energética nos edifícios.
Este futuro, contudo, exige uma transformação profunda em toda a cadeia de valor do setor. Desde os fabricantes e instaladores até aos projetistas e arquitetos, todos terão de se adaptar a novas exigências de competência técnica e digital. A aposta na formação e na qualificação será decisiva para garantir que Portugal continua a afirmar-se como um mercado competitivo no setor das janelas, portas e fachadas eficientes.
Na ANFAJE acreditamos que o caminho para o futuro passa pelo reforço da formação e pela colaboração e visão partilhada. O setor das janelas, portas e fachadas deve posicionar-se no centro da estratégia para uma construção mais inteligente, mais sustentável e mais próxima das pessoas. As janelas do futuro serão, certamente, mais do que aberturas para o exterior — serão interfaces tecnológicos, fontes de energia e símbolos de uma nova forma de habitar.
Estamos perante uma oportunidade única: unir a inovação digital à sustentabilidade ambiental, para criar edifícios verdadeiramente autossuficientes e confortáveis. As janelas estão a tornar-se protagonistas dessa mudança. Cabe-nos, enquanto setor, garantir que estamos preparados para abrir, de forma inteligente, esta nova era da construção.
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